Guerras

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Origem do PCC


Como nasceram as facções

A história e as técnicas de guerrilha adotadas pelo PCC, maior organização criminosa brasileira, para dominar o País

Por Alan Rodrigues

No final da década de 70 era freqüente nos presídios brasileiros presos políticos e bandidos comuns dividirem o mesmo espaço. A convivência forçada ensinou toda a população carcerária que só de maneira organizada poderiam fazer valer bandeiras como o fim da tortura, por exemplo. É nesse contexto que surge no Rio de Janeiro a Falange Vermelha, organização criminosa hierarquizada que conseguia denunciar os maus-tratos a que seus membros eram submetidos. Mais tarde surge, também no Rio, o Comando Vermelho, oriundo da Falange, e ainda mais sofisticado. A organização impunha sua força para fora dos presídios, fazendo com que os produtos de ações criminosas pudessem em parte reverter para um caixa único, a fim de garantir o sustento das famílias daqueles que estavam detidos. Em São Paulo, as organizações de presos começaram a surgir no início da década de 80, com as Serpentes Negras, grupo que exigia a implantação de uma política de direitos humanos no sistema penitenciário. O PCC se organiza a partir de 1993, depois do massacre que resultou na morte de 111 presos no extinto Carandiru, reivindicando os mesmos direitos das organizações do passado.

No início de 2000, após rebeliões simultâneas em presídios, alguns líderes do PCC, entre eles Marco Camacho, o Marcola, foram transferidos para o Rio de Janeiro. “Esse foi o nosso maior erro”, lamenta o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Departamento de Investigações Criminais de São Paulo (Deic), especializado no combate ao crime organizado. No Rio, Marcola, que até então era um simples “batedor de carteiras”, manteve contatos e construiu relações com o Comando Vermelho, aprimorando a organização do PCC. De presos organizados passaram para o crime organizado, liderando ações como tráfico de drogas e de armas, contrabando, roubo a bancos e seqüestros de dentro dos presídios. Criaram uma estrutura financeira capaz de arrecadar mensalmente cerca de R$ 1 milhão, dinheiro usado para bancar outros crimes, corromper agentes penitenciários, manter as famílias dos presos e até custear a formação de advogados de confiança. O mais recente investimento se dá na qualificação de sua mão-de-obra. O PCC coloca alguns de seus membros em cursos promovidos por empresas de segurança privada para que aprendam a manusear armas mais modernas e até a fazer direção defensiva.

Em 2005, Marcola conversou seguidamente com o chileno Maurício Norambuena, experiente militante da Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR) e um dos responsáveis pelo seqüestro do publicitário Washington Olivetto. Ambos estavam presos em Presidente Bernardes. Após essas conversas, o PCC parte para uma nova estratégia: a ordem é atacar, desgastar e desmoralizar a estrutura de segurança do Estado. Comandante Ramiro, nome de guerra de Norambuena, ensinou para Marcola como uma facção do porte do PCC poderia se transformar numa organização de dominação política para afrontar o Estado.

Para consolidar sua liderança sob os 100 mil comandados no sistema penitenciário e dez mil “soldados” que agem fora das muralhas, Marcola usa o tacão do terror. Os números do governo são alarmantes. São quase 500 mortos por ano nos presídios paulistas. Só em 2004 cresceu em 200% o número de suicídios dentro dos presídios. “Muitos dos presos que têm dívidas com a facção ou não querem mais cumprir as ordens são ‘obrigados’ a se suicidar”, diz o padre Valdir José Silveira, coordenador estadual da Pastoral Carcerária, entidade não governamental que trabalha em defesa dos presidiários.

Após eliminar líderes rivais (alguns decapitados), Marcola adotou posturas que aumentaram sua popularidade dentro dos presídios. Aboliu o uso do crack nas prisões, droga que segundo ele mesmo afirma acaba matando seu exército. Também decretou o fim dos estupros que vitimavam os presos mais fracos, e assim ganhou respeito. Leitor voraz, Marcola, que estudou até a oitava série, tem ambição. Além de usar as práticas da guerrilha urbana para colocar em xeque o próprio Estado e aterrorizar a população, o líder joga em outra ponta. O PCC vai financiar dois candidatos a deputado, um federal e outro estadual. Quer, a médio prazo, formar uma bancada para oficialmente “lutar pelos direitos do preso”.

Acesso em 12/01/2013


Revista Isto é, N° Edição: 1909 | 24.Mai.06 - 10:00 | Atualizado em 11.Jan.13 - 08:32

Guerra: Polícia x PCC


Guerra anunciada

2006: “Ao fim e ao cabo da semana fatÍdica, registravam-se 293 atentados, 161 mortes e 80 rebeliões. São Paulo vivia dias de Bagdá”.

Em 2006, os ataques do PCC (primeiro Comando da Capital), foram uma demonstração de força e organização, chegando a paralisar a maior cidade do país e até mesmo o Estado, agora essa onda de ataques esta sendo diferente, se comparada com a de 2006 os fatos estão ocorrendo em “doses” menores.

Naquela ocasião foi feito, segundo o especialista em segurança pública, Guaracy Mingardi, um acordo implícito entre o crime e o governo para cessar a violência. Esse acordo, que Mingardi classifica como um erro, teria sido quebrado de alguma forma este ano, aumentando a violência, tanto do crime, como da polícia. A guerra declarada entre polícia e crime organizado teve início no primeiro semestre de 2012, quando seis criminosos foram mortos durante uma ação de policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), no dia 28 de maio. Segundo as primeiras informações daquela ocorrência, seis viaturas se deslocaram ao local após uma denúncia anônima de que o bando, ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC), estava reunido no local para traçar um plano de resgate de um preso que seria transferido do Centro de Detenção Provisória do Belém, na zona leste, para a Penitenciária II de Presidente Vescenslau, no interior do Estado.

Após uma denúncia de truculência policial e investigação da Polícia Civil, pelo menos nove policiais da Rota foram presos pela execução dos criminosos. Uma testemunha contou que três PMs - um sargento e dois soldados - chutavam o suspeito levado pela viatura até o local. Um deles chegou a atirar a queima roupa no homem. A mulher ligou para a polícia e contou em tempo real o que, segundo ela, estava acontecendo.

Dois dias depois, o bairro de Cidade Tiradentes vivia o seu primeiro toque de recolher. Moradores foram avisados de que os criminosos atacariam batalhões em represália às mortes no bairro da Penha. Em junho, o bar que funciona no local onde os criminosos foram executados pegou fogo. Segundo os proprietários, o incêndio não teve ligação com o PCC.

Os ataques.

No mês de junho, São Paulo começou a viver a primeira grande onda de ataques a policiais e bases da PM. Os primeiros ataques foram registrados isoladamente, mas com o passar dos dias, ficou evidente de que se tratava de uma ação coordenada. O dia 20 de junho, em especial, chamou a atenção da Secretaria de Segurança Pública, pela sequência de crimes.

Na região da Vila Formosa, na zona leste, um policial militar foi morto por criminosos dentro de uma academia. Duas horas mais tarde, a cerca de 2 km de onde o PM foi morto, uma base móvel da Polícia Militar foi atacada em São Mateus. Quatro homens em um carro e um outro em uma moto pararam próximo à base e fizeram pelo menos oito disparos. No mesmo dia, outro policial morreu em troca de tiros com um criminoso em Pirituba.

A partir dessa série de eventos, a Polícia Militar começou a registrar casos sequenciais de mortes e ataques. No dia seguinte, um policial militar foi morto em um supermercado no Capão Redondo. No dia 22 de junho, um PM foi morto a tiros na região do Grajaú, quando estava indo para o trabalho. Na mesma madrugada, uma base foi atacada em Itaquera, mas nenhum policial ficou ferido. No dia 24 de junho, um policial militar foi assassinado a tiros em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. A partir de então, outros casos começaram a ser registrados em diversas cidades da Grande São Paulo, interior e Baixada Santista.

Por que incendiar ônibus?

Além de causar grande transtorno no trânsito, que já é sobrecarregado nos grandes centros, incendiar ônibus é uma maneira de fortalecer o caixa do crime organizado, visto que as organizações criminosas possuem participação direta nos lucros de muitas cooperativas de transporte (na grande maioria clandestinas). Quando um ônibus é queimado, várias peruas e vans são colocadas nas ruas para realizar o transporte dos usuários.

A partir do dia 24 de junho, a PM começou a registrar ataques a ônibus na Grande São Paulo. Na noite seguinte, um ônibus foi pego em uma emboscada na zona leste de São Paulo. Após receber sinal de um jovem em um ponto, o motorista foi surpreso por outros três que surgiram atrás de um muro. O veículo estava vazio e o motorista saiu correndo ao perceber a ação dos criminosos. No dia 26 de junho, veio o primeiro grande ataque e três ônibus foram queimados na região do Tremembé, na zona norte da capital.

Apesar da crescente onda de violência, a Secretaria de Segurança Pública continuava tratando os casos como ações isoladas, descartando o envolvimento do Primeiro Comando da Capital. Negar o envolvimento do crime organizado seria uma estratégia para não alarmar a população, para não mostrar a força e organização dos criminosos ou o despreparo de nossos políticos em lidar com tal situação?

Chacinas são usadas para espalhar o terror entre a população e até mesmo para desacreditar a polícia.

Após o início dos ataques contra policiais e a ônibus, a PM começou a registrar um aumento em crimes com características de execução e as primeiras chacinas começaram a aparecer. No dia 25 de junho, um grupo de quatro jovens foi encontrado baleado na em Poá, na Grande São Paulo. Segundo a polícia, por volta das 21h30, homens passaram atirando. As vítimas foram socorridas ao Pronto-Socorro Municipal, mas não resistiram aos ferimentos.


Na madrugada do dia 12 de julho, oito pessoas foram mortas após uma sequência de ataques na cidade de Osasco, logo após a final da Copa do Brasil de futebol, vencida pelo Palmeiras. Segundo a polícia, os atiradores aproveitaram a queima de fogos para efetuar os disparos. Em outubro e novembro, o número de execuções de civis aumentou consideravelmente e, segundo último balanço divulgado pela PM (não englobando o mês de novembro), outubro foi o mês mais violento do ano, com 176 homicídios apenas na capital.
Alguns moradores das comunidades afirmam ser ações de policiais essas chacinas, poderia ser uma forma de desqualificar a polícia e colocar o PCC como o salvador da pátria, o mocinho dessa crise.


Motivações.


A prisão de Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, em 26 de agosto, líder da facção (PCC) em Paraisópolis, já havia revelado informação parecida aos homens das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) que o prenderam. “Vão morrer até os mamões (policiais da reserva)”, ameaçou o criminoso ao ser detido, acrescentando que ainda morreriam “dois botas (PMs)” para cada “irmão”.

Como o “salve geral” confirmou, os ataques a PMs haviam sido ordenados pelas lideranças do PCC depois que mudanças na política de segurança pública, feitas pelo atual secretário Antonio Ferreira Pinto, aumentaram a atuação dos militares no combate à facção. Principalmente depois que os homens da Rota passaram a ser mais atuantes.

Ferreira Pinto assumiu a pasta da Segurança em 2009, em meio a uma crise de credibilidade dos policiais civis. Escândalos impensáveis tinham sido revelados, como o envolvimento de investigadores de Suzano com o sequestro do enteado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC. O caso aconteceu em 2005. Policiais civis pediram R$ 300 mil para soltar o jovem. Marcola pagou, mas avisou que “não ia ficar barato”. O achaque foi considerado um dos motivos para os ataques da facção no ano seguinte.

Quando passou a comandar a segurança, Ferreira Pinto optou por usar a Polícia Militar, corporação da qual havia sido oficial e em que mais confiava, para lidar com as informações vindas dos grampos e do serviço de inteligência do Ministério Público e da Secretaria de Administração Penitenciária. Os policiais civis seriam postos de lado (um perigo, visto que essa atitude poderia aumentar a rivalidade entre as policias).
A inteligência na investigação dos presídios tornou-se afiada e até interceptações telefônicas de crimes em andamento começaram a cair no grampo. Essas informações eram repassadas diretamente aos policiais militares, resultando em uma série de conflitos e de vítimas nas ocorrências, principalmente em supostas trocas de tiros com policiais da Rota.
Policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), enfrentaram uma quadrilha no dia 11 de setembro. No total, oito acusados de compor um "tribunal" do crime organizado que julgava um homem acusado de estupro, foram mortos na operação. O homem que era julgado pelos bandidos também foi alvejado e não sobreviveu. Outros oito suspeitos foram presos pelos policiais. Na ocasião, o ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Luiz Gonzaga Dantas, disse que a ouvidoria investigaria a ação, além de acompanhar as investigações no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O Ministério Público também acompanha o inquérito policial sobre a ação da Rota.

Em novembro, a PM determinou a prisão de cinco policiais suspeitos de matar um servente na periferia da zona sul da capital. Um vídeo feito por um vizinho mostra o servente Paulo Batista do Nascimento, 25 anos, sendo cercado por policiais em uma rua do bairro do Campo Limpo. As imagens confirmam que ele foi agredido. No vídeo, é possível ver o servente levando um tapa e um chute dos policiais antes de ser levado para o carro da polícia.

Em seguida, um policial aparece com os braços erguidos em posição de tiro. Não é visto nenhum disparo, mas depois de um barulho parecido com um tiro, as imagens mostram a movimentação de alguns agentes. No boletim de ocorrência, os PMs relataram que o corpo foi encontrado em uma viela pelos policiais.

Resposta do governo

Em outubro, a Polícia Militar deu início à Operação Saturação para combater o crime organizado em várias regiões da capital, em Guarulhos e na cidade de Ribeirão Preto. Em novembro, o ministro José Eduardo Cardozo e o governador Geraldo Alckmin anunciaram que as esferas estadual e federal teriam uma agência integrada de combate ao crime organizado. A reunião definiu ações de "asfixiamento financeiro" das organizações criminosas responsáveis pelos ataques e também a futura transferência das lideranças envolvidas em mortes de policiais para presídios federais.

Dias depois, o governador de São Paulo reconheceu pela primeira vez dificuldades na segurança pública por conta da onda de homicídios vivida em São Paulo nos últimos meses. No dia 21 de novembro, o então o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, pediu exoneração do cargo. Em seu lugar, assumiu o ex-procurador geral de Justiça do Estado de São Paulo, Fernando Grella.

Cinco dias depois, foram divulgados os nomes dos novos comandantes das polícias Civil e Militar de São Paulo. O Comando Geral da Polícia Militar foi assumido pelo coronel Benedito Roberto Meira, atual chefe da Casa Militar do Governo do Estado. Já a Polícia Civil passou a ser comandada pelo delegado classe especial Luiz Maurício Souza Blazeck.


Para o especialista em segurança pública e pesquisador da Fundação Getulio Vargas Guaracy Mingardi, o aumento das mortes está ligado a um ciclo de vinganças entre o crime organizado e os policiais. Na opinião de Mingardi, que foi subsecretário nacional de Segurança Pública, faltou uma ação adequada para dar resposta aos primeiros casos de execução de policiais, o que está levando aos confrontos.


Uma carta escrita com bela caligrafia e repleta de erros de português era uma das peças que faltavam para ajudar a compreender as causas da atual tensão vivida em São Paulo e o crescimento dos assassinatos neste semestre. Apreendido em Paraisópolis, na zona sul, o “salve geral” do Primeiro Comando da Capital (PCC) dava a “todos os irmãos da rua” as ordens que deveriam seguir a partir de 8 de agosto.

O recado era claro. Dois PMs deveriam ser executados para cada integrante do PCC morto. A ação seria uma resposta “às execuções covardes feitas pela Polícia Militar”. Segundo o “salve”, caberia ao “sintonia geral da quebrada” cobrar a “morte do irmão” com a execução dos PMs “da mesma corporação” que cometesse “a covardia”.

"Se você não resolver (os casos de mortes de policiais), não prender ninguém, a polícia fica inquieta e começa a matar mais. A polícia mata mais, os criminosos matam mais e as coisas vão indo assim: represália para lá, represália para cá", disse. "Isso é uma quebra do regime democrático, de direito, que você não pode deixar acontecer", completou.


O valor da vida


Policiais paulistas estão sendo assassinados por quantias ínfimas. Meros R$ 600 ou R$ 850, devidos por alguma quadrilha ao Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminal dos presídios brasileiros. Isso não é teoria, mas realidade, comprovada em investigações.

A possibilidade de que dívidas na compra de drogas ou armas sejam anistiadas pela facção, mediante o assassinato de policiais, foi flagrada por promotores de Justiça do Grupo Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Em telefonemas desde uma penitenciária do oeste do Estado, grampeado pelo Ministério Público, bandidos lembram a quadrilheiros a necessidade de pagar a mensalidade do Partido do Crime (como é chamado o PCC). Uma das formas, para os que estão na rua, é matar policiais.

É por isso que drogados em dívida podem estar por trás da onda de assassinatos que já ceifou a vida de mais de 100 PMs, agentes penitenciários e policiais civis este ano. Grande parte das mortes é encomenda do PCC, apontam investigações.

Um dos que ordenaram a morte de seis policiais militares é Roberto Soriano, o Betinho Tiriça, que passou a outros presidiários bilhetes encomendando o assassinato de integrantes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da PM paulista.

Tiriça, que está trancafiado em cela isolada em Presidente Bernardes, em presídio a mais de 600 quilômetros da capital paulista, quer vingança por duas matanças cometidas por policiais da Rota este ano. A primeira, em agosto, quando seis assaltantes foram metralhados ao tentarem explodir caixas-eletrônicos em um supermercado. A outra, em setembro, quando a tropa de elite matou nove criminosos que se preparavam para "julgar" um suspeito de estupro, em Várzea Paulista (Grande São Paulo).


Prova Material

A grande prova material contra os atentados praticados pelo PCC veio em 30 de outubro, quando a PM localizou o que chamou de "central de espionagem" do Partido do Crime em Paraisópolis, uma das maiores favelas paulistanas. Foi localizada uma mala com anotações feitas pelo bando de Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, um dos líderes do PCC. Ela estava recheada com cadernos nos quais havia nomes, endereços e hábitos de policiais civis e militares.

Ficou comprovado, pelos manuscritos, que os policiais eram seguidos por criminosos, que sabiam o percurso dos agentes e até seus hábitos, como jogo de futebol e sinuca. A motivação para os assassinatos é diversificada. Alguns policiais seriam eliminados por atrapalhar, no serviço, ações do PCC. Outros, por estarem envolvidos na morte de integrantes da facção. E, conforme investigações, alguns por cobrarem suborno em área controlada pelo Partido do Crime. Um quarto grupo é composto de policiais de rua, que seriam eliminados por serem alvos fáceis e como retaliação, aleatória, contra outros agentes que prejudicaram o PCC.

A apreensão da lista só aconteceu porque a comunidade foi tomada pelos policiais militares, num cerco denominado Operação Saturação. Ela ocorre em quatro regiões da periferia da Capital e Grande São Paulo.

Numa tentativa de neutralizar as ameaças, o governo estadual e o governo federal combinaram o isolamento de Piauí. Ele foi transferido de Avaré (SP) para a Penitenciária Federal de Porto Velho (Rondônia).

Segundo uma gravação feita pelo Gaeco, os bandidos afirmam que a mensalidade do PCC subiu de R$ 600 para R$ 850. Caso o criminoso não tenha como arcar com a despesa, ele é coagido a matar um policial militar. Caso não realize o serviço, será exterminado pela facção. A morte de policiais militares também serve como vingança pela morte de “irmãos” do PCC. Para cada aliado da facção morto, dois policiais são executados.
 
Uma estratégia do crime organizado é a de atacar policiais fora do horário de trabalho, assim pairam duvidas a respeito das motivações dessa morte, e evita parecer que a afronta foi uma atitude direta contra o Estado.

Acesso: 02/01/2013